segunda-feira, 29 de outubro de 2007

“Uma verdade inconveniente” *

Há um bom tempo Alvin Toffler vem se apropriando da intangibilidade dos mercados como fundamento de suas teorias para explicar a velocidade em que o conhecimento se torna obsoleto. De fato o objetivo dele não é questionar a vida útil curta que este conhecimento alcança, mas sim a riqueza gerada por ele, que é o verdadeiro fator que impacta na vida e morte das empresas. O importante não é mais saber se a empresa, e o mercado que esta está inserido vão morrer, mas sim qual a rentabilidade obtida nesta vida – mesmo que curta – da empresa, pois seu fim é inevitável, partindo do pressuposto do conhecimento como fonte de riqueza. Toffler não se declara pai do termo Intangível, pois ele mesmo cita Baruch Lev, professor de Contabilidade e Finanças na Leonard Stern School of Business, da Universidade de Nova Iorque, que escreveu em 2005 o livro com o título: Intangíveis.
É uma pena Alvin Toffler não conhecer Thomas Malthus. Se o conhece, com certeza tem a mesma visão que a humanidade carrega dele: a de um economista vivendo um inferno astral, graças a sua célebre frase: “As pragas são bem vindas!”, e suas previsões apocalípticas.
Na verdade Malthus pode ter sido o primeiro e único futurólogo que foi altamente criticado e condenado pela sua postura radical, mas após três séculos, suas afirmações nunca estiveram tão atuais. A verdade dói.
Claro, que possuía uma visão agrária, mas os serviços seriam opções para que não houvesse um mergulho em rendimentos decrescentes na indústria, confirmado por Ricardo, indo contra a Lei dos Mercados, que era clara no sentido de que toda oferta criaria sua própria demanda.
O caos econômico, previsto por Malthus, que vamos viver foi apenas adiado pela onda global que fez uma inserção profunda da intangibilidade no dia a dia do consumidor. Agora a intangibilidade está vendo se virar contra si a teoria dos rendimentos decrescentes, comprovada pelo fim da era das empresas pontocom.
Se o intangível foi pulverizado no planeta e não houve ninguém que ganhasse dinheiro com seus direitos autorais, o que faremos com esta grande riqueza que provém do mundo virtual, se corremos o grande risco da verdadeira propriedade a ser defendido, o planeta Terra não existir mais? Como lutar por uma inovação tecnológica, que vai fornecer um upgrade na economia, se os consumidores forem pulverizados pela quantidade excessiva de CO2 no planeta?
Está na hora de diminuirmos a velocidade e pararmos de inovar e simplesmente consertar.


* título do documentário de Davis Guggenheim estrelado por Al Gore.

sábado, 18 de agosto de 2007

Uma carta ao pai de Bárbara Wood

Meu caro amigo,

Esses dias eu fui à papelaria e me lembrei de você: vi que o preço do papel reciclado é mais caro que o convencional. Engraçado mesmo foi receber, uma semana depois, um texto de Juliana Tavares falando de tecnologia social.
Quando se trata de tecnologia social é preciso avaliar como está sendo conduzido, pois, como você bem sabe, trata-se da aplicação de técnicas alternativas, adequadas a uma realidade, com o objetivo de auxiliar a comunidade à alcançar seu desenvolvimento sócio-econômico, e aqui no Brasil estou observando um caráter assistencialista, o que fere a premissa da sustentabilidade. Na verdade tanto grandes corporações como o governo têm agido assim apenas para alcançar um status ou criar “slogans” de “empresa amiga”, “Brasil um pais de todos”. Infelizmente não tem sido para todos.
Seria tendencioso dizer que nada é feito, pois é mentira. O soro caseiro, desenvolvido pela Pastoral da Criança, vem sem sombra de dúvida, salvando muitas crianças no Brasil e no mundo. A Produção Agroecológica e Integrada e Sustentável (PAIS) ajuda várias famílias a cultivarem hortas e criação de pequenos animais não só para a subsistência, mas também gerando renda.
Porém, o país possui um grande entrave, a falta de uma “infra-estrutura sócio-cultural”. As Universidades, que são as grandes incubadoras do conhecimento, não recebem incentivos e formação do governo para articular com a comunidade, que está inserida, descobrir e aproveitar a sua identidade cultural com o intuito de construir um projeto que ofereça trabalho e geração de renda. Por sua vez, os universitários recebem seus diplomas e se tornam profissionais que não sabem como se envolverem com sua comunidade para desenvolver meios sustentáveis para seu crescimento e o crescimento da própria comunidade, surge então um ciclo vicioso da pobreza sócio-cultural, na qual a universidade não forma e os profissionais não sabem buscar, neste contexto cria-se um abismo entre o conhecimento e a comunidade que tem o poder da ação.
Dizer que o governo brasileiro não investe também seria mentira. Mas os recursos são pulverizados em diversas ações, quando poderíamos ter melhores resultados com uma vetorização destes recursos, que não são poucos. E o resultado é uma política assistencialista que pulveriza água sobre uma frigideira quente, sem criar um ciclo auto-sustentável. A preocupação maior é de criar “projetos pilotos” para mostrar a vocês de Oxford.
Fica a esperança de um dia tornarmos esse país auto-sustentável, e que reciclar, aproveitar, reutilizar, repensar, não sejam mais artigos de luxo.

PS: O Francis aproveita pra também mandar lembranças a todo pessoal, adeus...

quinta-feira, 16 de agosto de 2007

Onda ou Tsunami ?


A cada dia que passa vem se tornando mais difícil manter o emprego de futurista, com exceção de Alvin Toffler e sua esposa Heidi. Na verdade, eles receberam este título após preverem como seria o comportamento sócio-econômico no novo milênio, isso ainda na década de 70 (Future Schok 1970), e a famosa terceira onda, publicada no início dos anos 80 (The third wave, 1980).
Alvin Toffler é, antes de tudo, um grande cientista social, que vem estudando o surgimento de novas riquezas desde o início da história da humanidade e, baseado em seus levantamentos, conseguiu dividir em três grandes “eras”. Observando essa evolução do desenvolvimento da civilização, e o decifrando com maestria, fica fácil – para ele – detectar tendências.
Uma pessoa que vê o futuro é encantadora para todos nós, principalmente para os grandes executivos, que precisam desta habilidade em suas tarefas corriqueiras. Mas não podemos sucumbir a esta tentação, pois os “gurus” que vêem surgindo, não possuem conhecimento científico necessário para opinar sobre a reação dos paises e suas economias nessa grande globalização que vivemos. E ainda, estes tais formadores de opinião, usam de forma oportunista e especulativa os seus ensinamentos para embolsar alguns milhões com consultorias e publicações. Querem construir a imagem de um mundo melhor, mais dinâmico e mais eficaz, mais ágil. Infelizmente, ser futurista não é só dar boas notícias.
Toffler vê o futuro de uma sociedade que cada dia depende mais dos satélites e celulares para realizar, desde o sincronismo de toda a infra-estrutura de uma grande indústria, como uma simples compra de cartão de crédito. Descreve como “um mal que vivemos”, por exemplo, a rapidez com que o conhecimento se torna obsoleto. A velocidade da informação obriga as empresas a operarem em 24 horas por sete dias na semana. O escritório está em todo lugar e não há como se desligar. E o que dizer da economia não-monetária? O que pode haver de impacto, quando essa se sincronizar com a economia monetária? Não é a toa que os últimos comentários e publicações de Toffler nos trazem temas como, críticas severas a extrema direita européia, de como os consumidores não recebem alguma retribuição econômica e guerras.
Pode-se dizer que se pensarmos bem, as ondas não passam: elas crescem, formam cristas e, na praia, arrebentam. Foi assim como as outras duas ondas. Fica a esperança de que essa terceira onda, tão fascinante, não fique grande o suficiente para soar os alarmes anti-tsunami.